A recente denúncia feita por Felca trouxe à tona uma questão urgente sobre as plataformas digitais, mas a psicóloga e educadora sexual Tatiana Presser, esposa de Nizo Neto, vai além do que já foi dito. Em seu texto, ela expõe a falha estrutural dos algoritmos, que, em vez de proteger, silenciam as vozes que buscam educar e, paradoxalmente, dão espaço para quem quer explorar. É uma “contradição que silencia”, na qual a ferramenta de proteção se torna um entrave para a prevenção.
Nós do Universo Artístico convidamos você a uma reflexão profunda sobre este tema. É um olhar essencial sobre como a educação sexual, uma ferramenta de proteção social, está sendo penalizada pelo sistema que deveria protegê-la. Uma leitura que, certamente, fará você questionar o que realmente está por trás do seu feed nas redes sociais.
“A Contradição que Silencia: Quando o Algoritmo Puni o Educador e Premia o Predador”
O recente vídeo-denúncia de Felca trouxe à tona, de forma contundente, a necessidade
urgente de combater a adultização e outros crimes sexuais que se perpetuam nas redes
sociais. No entanto, se quisermos chegar a soluções realmente eficazes, precisamos
ampliar o olhar. Não basta apenas reagir ao sintoma; é imprescindível tocar na raiz do
problema — a ignorância sexual.
Vivemos em uma sociedade que, paradoxalmente, se indigna com casos de exploração
sexual, mas mantém a educação sexual relegada à marginalidade do debate público. E
essa contradição se reflete de maneira ainda mais aguda no ambiente digital, onde as
plataformas se tornam, ao mesmo tempo, palco e filtro. O algoritmo, supostamente
projetado para proteger, falha ao não discriminar entre conteúdos criminosos — que lucram
explorando a vulnerabilidade de menores de idade — e produções legítimas, de caráter
científico e educativo, elaboradas por sexólogos, psicólogos e educadores.
Essa indiscriminação não é apenas uma falha técnica; é um entrave estrutural que
inviabiliza a disseminação de informações capazes de prevenir justamente as situações que
se deseja erradicar. Enquanto profissionais sérios enfrentam bloqueios, suspensões e
exclusões sistemáticas de conteúdo, indivíduos com intenções ilícitas mostram-se capazes
de explorar brechas, manipular formatos e driblar as restrições com mais facilidade.
A ironia é cruel: quanto mais um conteúdo busca ser ético, embasado e transparente, maior
o risco de ser penalizado pelo sistema. Já os discursos que se revestem de códigos, gírias
e subterfúgios — com intenção claramente predatória — conseguem permanecer no ar por
mais tempo, alcançando públicos vulneráveis e/ou com intenções exploratórias.
No cerne dessa problemática está a visão reducionista que ainda persiste sobre
sexualidade. O desconhecimento generalizado a transforma em tabu, e o tabu se
transforma em terreno fértil para a manipulação e o abuso. Combater crimes sexuais sem
investir massivamente em educação sexual para a grande massa é como tentar conter uma
enchente apenas enxugando o chão: uma ação reativa, limitada e fadada à repetição do
problema.
Se quisermos verdadeiramente proteger crianças, adolescentes e adultos vulneráveis,
precisamos reconhecer que educação sexual não é um “tema opcional” ou “conteúdo
sensível” a ser escondido. É uma ferramenta de proteção social. E, no contexto digital, isso
significa exigir das plataformas a capacidade de distinguir, com precisão e responsabilidade,
o que é crime do que é ciência, o que é exploração do que é prevenção.
Enquanto essa distinção não existir, estaremos vivendo uma contradição perigosa: a de
punir quem quer prevenir, enquanto deixamos espaço para quem quer explorar.
Como avançar:
Para reverter esse cenário, é urgente que a comunidade de sexólogos e educadores
sexuais se organize para:
- Pressionar as plataformas a criar sistemas de moderação com especialistas
da área, capazes de avaliar nuances e diferenciar conteúdo educativo de material nocivo. - Estabelecer protocolos claros para denúncias de remoção indevida de conteúdo educativo, garantindo prazos curtos para revisão humana e reposição do material.
- Unir forças institucionalmente, formando associações ou conselhos que possam dialogar com empresas de tecnologia e órgãos reguladores de forma representativa e estratégica.
- Educar o público sobre essa censura invisível, para que mais pessoas compreendam que limitar a educação sexual não combate o crime — pelo contrário, o favorece.
Enquanto não houver essa mobilização, continuaremos presos à contradição perigosa de
punir quem quer prevenir, enquanto deixamos espaço para quem quer explorar.
Tatiana Presser (https://www.instagram.com/tatianapresser/)
Psicóloga & Educadora Sexual

Tatiana Presser é psicóloga e educadora sexual, com mais de 20 anos de experiência em saúde íntima e bem-estar. É autora do livro “Vem Transar Comigo”.
Em parceria com o marido, o humorista Nizo Neto, ela desenvolveu uma linha de cosméticos sensuais e produtos eróticos, chamada “Vem Transar”. A linha foi inspirada em seu livro e na peça de teatro “Vem Transar Comigo”, na qual ela e o marido atuaram. Tatiana já foi entrevistada por diversos veículos de imprensa, como o “Programa do Jô” e a TV Gazeta, onde falou ao lado de Nizo Neto sobre sexo e a importância da educação sexual.