A vastidão da memória coletiva das gentes brasileiras é notável, explícita, infindável, nesse álbum que já está nas plataformas digitais. Os traços culturais fincados na alma do nosso povo aparecem em profusão dentro de todos os campos da vida social, mesmo em levas de grandes aviltamentos da identidade cultural em tempos hodiernos. O imaginário popular e as ancestralidades são perenes, fortes, indestrutíveis. “O Brenha é um regresso, uma revisita aos temas iniciais da minha discografia: Nordeste Mítico e Místico, Religiosidade Popular, Herança Ibérica/Mourisca…”, define Júnior Cordeiro.
Concentrado em reavivar, reacender e revigorar os elementos mais enraizados das nossas tradições populares, Júnior Cordeiro, em seu décimo primeiro álbum, volta aos temas primevos de sua poética, de seu discurso musical: o Sertão Profundo, O Nordeste mítico e místico de fabulosa tradição. “Nos últimos discos eu tinha me dedicado mais a expor temáticas mais ligadas à filosofia, à existência e à condição humana. Agora voltei para as brenhas da memória coletiva brasileira, do sertão nordestino, meu berço cultural”, conta o artista.
“BRENHA, VASTO PROFUNDO” é uma longa viagem poético-sonora que se debruça sobre temas cujos quais o artista paraibano conhece de perto, por empirismo e estudos: crendices populares, sertão mítico, catolicismo rústico e sertanejo, lendas, herança ibérica-moura, ancestralidades ameríndias e africanas, sebastianismo e tudo que remeta ao que há de mais profundo e mais mágico no inconsciente coletivo do povo brasileiro, sobretudo nordestino.
O disco soa como uma ode à alma brasileira, uma grande apologia ao fecundo caldeirão de elementos culturais que gestaram a nossa feição enquanto povo, em sua diversidade e originalidade. Nessa busca da nossa gênese cultural, o Sertão, sacralizado pelo artista em grande parte de sua obra, é visto como um espaço onde o tempo não corrói a memória popular, que persiste e ainda brilha mesmo em épocas tão globalizantes.
Na senda sonora, o álbum aponta para uma concepção mais intimista e “sertânica” da obra de Júnior Cordeiro, cujas matrizes musicais estão fincadas muito mais na enorme variedade de gêneros de música nordestina, e até ibérica-mourisca, do que no Rock, outro acento forte e premente na discografia do artista. Não obstante esse “regresso” a bases mais nordestinas, o compositor ainda guarda pitadas explícitas de psicodelia e rock progressivo em parte das canções.
Sem mais, Brenha é vasto, é profundo sabor do povo brasileiro. Brenha é vasta senda fantástica que habita em nós. As brenhas culturais brasileiras precisam ser mais revisitadas na nossa música.
“Um Júnior Cordeiro de safra: é assim que defino este álbum. Resolvi mostrar a face mais espinhenta de minha obra, a mais sertânica, a mais nordestina possível… Não que eu tenha deixado de lado o hard rock, o progressivo e o blues. Mas o conteúdo disto está menos visível nesse novo álbum. Entretanto, a psicodelia é premente em todas as canções: poesia ácida e viagens sonoras movidas muito mais pela viola do que pela guitarra… O Brenha é uma viagem de volta, um reencontro com os ermos, com o Nordeste mítico de fabulosa tradição, que sobrevive apenas na memória coletiva, frente à voracidade do tempo e da internet”, conclui Júnior Cordeiro.