Por que não estamos falando sobre isso?
Pornografia.
Ela está em toda parte. Nas telas dos celulares, nos computadores, nas redes sociais e até mesmo em espaços que não imaginamos. Mais do que um entretenimento adulto, a pornografia tem se tornado, muitas vezes, a primeira fonte de informação sobre sexo para crianças e adolescentes. O problema? O que está sendo aprendido pode ser prejudicial.
Estudos mostram que a exposição precoce à pornografia está crescendo. Nos EUA, crianças de apenas 12 anos já têm acesso regular a esse tipo de conteúdo, enquanto na Europa, cerca de 1 em cada 3 crianças entre 9 e 16 anos já se deparou com material pornográfico online. Isso não é apenas uma questão de “curiosidade natural”. O impacto da pornografia na forma como entendemos o desejo, os relacionamentos e o consentimento é profundo e, em muitos casos, problemático.
Se não falamos sobre sexo de forma aberta e educativa, estamos entregando a educação sexual para a pornografia. E ela, convenhamos, não tem compromisso com a realidade, muito menos com a saúde emocional e psicológica de seus consumidores.

O Problema do Silêncio
Por que é tão difícil falarmos sobre sexo? Existe um tabu em torno do tema, que muitas vezes faz com que pais, educadores e a sociedade em geral evitem abordá-lo. O medo de “incentivar” a sexualidade precoce ou a própria falta de informação por parte dos adultos geram um vácuo que é preenchido pela pornografia. Mas ignorar um problema não faz com que ele desapareça.
O caso de Gisele Pelicot é um alerta. O silêncio sobre a sexualidade não protege, apenas deixa crianças e adolescentes vulneráveis a padrões distorcidos do que significa prazer, respeito e consentimento. Se não tomarmos a iniciativa de falar sobre isso de forma honesta e educativa, a pornografia continuará ditando as regras.
O Impacto da Pornografia na Formação Sexual
A pornografia mainstream é uma indústria bilionária cujo objetivo é entreter, e não educar.
Seus roteiros são criados para maximizar a excitação, não para representar a realidade. Como resultado, muitos jovens aprendem conceitos errados, como:
- A falta de comunicação entre os parceiros;
- A objetificação do corpo feminino;
- A erotização da violência;
- Expectativas irreais sobre corpos e desempenho.
A exposição excessiva pode levar à dessensibilização, fazendo com que os indivíduos necessitem de estímulos cada vez mais extremos para obter excitação. Isso pode afetar relações reais, criando problemas de intimidade e autoestima.
A Pornografia Pode Ter um Papel Positivo?
Embora a pornografia possa ter impactos negativos, não podemos demonizá-la por completo. Há quem a utilize de forma equilibrada e até encontre nela um recurso benéfico. Mulheres com baixa libido, por exemplo, podem descobrir novas formas de desejo e prazer ao consumi-la de maneira consciente.
O ponto-chave aqui é o equilíbrio. Assim como com qualquer outro consumo – seja de álcool, comida ou redes sociais – é preciso saber como e quando utilizá-la.
Também vale ressaltar que existe pornografia feita com responsabilidade, que respeita os atores e propõe narrativas mais diversas e inclusivas. O problema está no consumo sem senso crítico e sem contraponto educativo.
O Que Podemos Fazer?
O primeiro passo é abrir o diálogo. Precisamos normalizar conversas sobre sexo de forma educativa, acolhedora e respeitosa. Algumas ações importantes incluem:
- Educação sexual desde cedo: Ensinar crianças e adolescentes sobre consentimento, respeito e prazer de forma adequada para cada faixa etária.
- Mediação digital: Acompanhar o que os jovens estão consumindo online, ensinando-os a questionar e refletir sobre o conteúdo.
- Conversas abertas entre pais e filhos: Tornar-se uma fonte confiável de informação para evitar que eles busquem respostas em lugares inseguros.
- Promover uma pornografia mais realista: Incentivar a produção e o consumo de conteúdos que valorizem o prazer e o respeito, sem violência ou exploração.
A pornografia não precisa ser vista como um inimigo, mas também não pode ser a única fonte de educação sexual. Se quisermos que futuras gerações desenvolvam uma relação saudável com a própria sexualidade, precisamos falar sobre isso.
Não somos baluartes da moral e dos bons costumes, mas acreditamos que um espaço franco, educativo e respeitoso para discutir a sexualidade é essencial. Por isso, essa coluna no Universo Artístico nasce com o intuito de acolher todas as vozes e abrir caminhos para um debate mais consciente.
Seja bem-vindo(a) a essa conversa! Vamos juntos construir uma visão mais saudável sobre o prazer, o desejo e os relacionamentos.