A receita da Inteligência Artificial: John Maeda tempera tecnologia com sabores da cozinha


Exibir esse e-mail no seu navegador


A receita da Inteligência Artificial: John Maeda tempera tecnologia com sabores da cozinha
Uma degustação peculiar no palco Kobra-32 misturou ingredientes inusitados: criatividade, tecnologia e o futuro da IA


Crédito: Ag. Enquadrar/ Divulgação RIW

Na segunda noite do Rio Innovation Week, a Plenária RIW se transformou em uma verdadeira cozinha experimental. No palco Kobra-32, o vice-presidente de Design e Inteligência Artificial da Microsoft, John Maeda, e o físico Marcelo Gleiser serviram ao público uma conversa de dar água na boca sobre como a cozinha pode temperar nossa compreensão da criatividade, tecnologia e inteligência artificial. Até o morango do amor entrou nessa receita.



Com um currículo tão rico quanto um caldo bem apurado, Maeda é formado pelo MIT, doutor pela Universidade de Tsukuba, autor do best-seller “Laws of Simplicity” e pioneiro em design computacional com obras no MoMA. Diante de uma plenária lotada, chegou vestindo um avental e pronto para compartilhar sua receita especial de conhecimento por meio de um cooktop e algumas panelas.



Logo no início da apresentação, Maeda convidou uma voluntária para ser a “chef da inteligência artificial”, transformando o palco em uma espécie de cozinha pedagógica. Com a habilidade de um chef experiente, explicou que existem dois pratos principais no cardápio da IA: uma receita derivada do aprendizado de máquina (servida em dispositivos médicos, por exemplo) e outra baseada em modelos de linguagem, que funcionam como uma alquimia culinária, transformando palavras em longos vetores numéricos.



“Modelos de linguagem não pensam — eles transformam palavras em longos vetores numéricos. Parece inteligência, mas é apenas matemática”, afirmou o tecnólogo.

Em um momento especialmente saboroso da apresentação, o tecnólogo distribuiu macarrão para a plateia, apresentando seu conceito de “AI Kitchen”. A massa serviu como metáfora para os vetores numéricos que estruturam o funcionamento dos modelos de IA – ingredientes básicos que, quando bem combinados, criam algo extraordinário.



Maeda temperou ainda mais sua explicação com a metáfora da tesoura: uma lâmina representa o contexto, a outra a cognição. O grande segredo da receita, segundo ele, está em encontrar o contexto certo. “Tanto humanos quanto IAs estão sempre tentando adivinhar a próxima palavra. A diferença é que, para nós, contexto é arte”, disse ele.



Para dar ainda mais sabor à conversa, o designer relembrou a história do primeiro chatbot, criado em 1966, que funcionava apenas com “receitas simples” de repetição e perguntas genéricas. “O primeiro chatbot, em 1966, apenas repetia o que ouvia e fazia perguntas genéricas. Mesmo assim, parecia inteligente”, observou, mostrando como a nossa percepção de inteligência pode ser facilmente “enganada pelo tempero”.



O diálogo com Marcelo Gleiser adicionou novos temperos à discussão, abordando as diferenças entre IAs conversacionais e não conversacionais, além dos riscos de confundir pratos autênticos com simulações. Maeda trouxe exemplos frescos do comportamento dos jovens, como o interesse renovado por câmeras digitais antigas, para refletir sobre nossa eterna busca por autenticidade gastronômica tecnológica.

“A IA não vai matar o pensamento crítico. Vai acelerar processos — desde que entendamos os fundamentos”, disse.



Para fechar a cozinha, Maeda deixou sua receita mais valiosa. “Se você coloca coisas boas na IA, saem coisas boas. Se coloca coisas ruins, saem coisas ruins”. Uma lição que reforça a importância do uso consciente da tecnologia e de um otimismo ativo – temperos essenciais para qualquer chef que queira inovar na cozinha do futuro. “O mais empolgante na IA é que ela transforma dados soltos em algo estruturado, algo que antes era impossível para a computação”.

Para a plateia, ficou aquele gostinho de quero mais.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *