qua. dez 17th, 2025

Juíza Kíria Garcia lança livro de poesias que marca sua estreia na literatura

“Há momentos dolorosos na vida/Em que precisamos nos livrar de pedaços que não se renovam/ São órgãos doentes/dentes podres/ Amizades e amores vencidos”… Amadurecer exige coragem. Estrear também. E, aos 52 anos, a poeta e juíza do Trabalho Kiria Garcia sabe bem disso. Grande conhecedora das leis, ela tem na poesia outra de suas paixões. E, através da escrita, expurga e expõe sua visão sobre questões cruciais da vida como o amor e seus (des)encontros, a passagem do tempo, essa entidade inexorável, além de dilemas relacionados à mulher como a própria autonomia, reconhecimento, maternidade e a relação com esses seres chamados filhos. A escritora reúne 63 de seus textos em (in)delicadezas, coletânea que marca sua estreia na literatura. A edição chega às livrarias em setembro pela Editora Litteris com apresentação do escritor e editor Artur Rodrigues e com o texto da orelha assinado pela cantora, compositora e influenciadora Patrícia Mellodi.

“Suas letras, como faróis, capturam nossa atenção e nos arrebatam com uma força vigorosa e urgente”, observa Artur no prefácio chamando atenção para o fato de o cotidiano ser uma das matérias da autora. Sim, o cotidiano. “E do que falaria o poeta senão do seu cotidiano?”, indagou, certa vez, Adélia Prado já farta de comentar a pecha de “Poeta do Cotidiano” comumente atribuída a ela. Sim, o poeta fala de si e da vida, e seu diferencial está na forma abordada. E, sob este aspecto, Kíria segue as insígnias da poeta mineira, referência a seus pares da contemporaneidade. “Aprendi/ Que a poesia está em mim/ No meu jeito de olhar o céu, a lua, o mar”, corrobora então a discípula.

“Eu sinto muito/ Sinto tudo, muito/ Sinto muito mesmo” revela-nos Kiria já no poema que abre a coletânea. E, assim, de forma despudoradamente sincera, a escritora desfia as  muitas linhas que formam sua teia de pensamentos e vivências. E neste bojo estão dissabores e desencontros amorosos, segredados em subterrâneos: “Guardo meus ex-amores/Dentro de um cofre atrás da estante/ Catalogados por data ou importância/Como dinheiro velho”.

“Escrever/ É fazer faxina nas emoções (…) Não é uma escolha/ É uma necessidade”, constata Kíria. E, sob este aspecto, ela não se faz de rogada e levanta a poeira, revirando pelo avesso sentimentos e extraindo deles o suprassumo da poesia: “Me desfiz de todo o peso/ das joias de família/ Álbuns de fotografia/ Amizades vencidas/ Amores tóxicos/Em cada queda/ Me despi”.

E, assim, desnudada, ela nos confronta e espelha , expondo dissabores e anseios, coisas pretéritas ou pretensas. “Não se trata só de um livro, mas sim de um espelho de mulher, de uma mulher paradoxal, plural e multifacetada” como bem observa Mellodi na orelha.

Espelho do ser humano, podemos acrescentar. Afinal, como a própria Kiria nos diz, os “poetas anestesiam com palavras/ As dores que bêbados afogam em copos”. E assim ela segue com sua fala personalíssima o percurso iniciado agora com este livro. “Ando pra me sentir livre/ Ando porque não sei voar”, constata marotamente a poeta.

Acontece que ela sabe – e voa alto. .

Sobre a autora:

Graduada em Direito pela UFRJ, Kíria Garcia trabalhou como advogada e professora de Direito e, desde 2003, atua como juíza do Trabalho no Rio de Janeiro. Leitora voraz de poesia e escrevendo desde que se entende por gente, faz com (in)delicadezas sua estreia na literatura.

By Filipe Fernandes

Amante da vida cultural carioca. Sempre em busca de uma exposição ou peça de teatro que me faça sair de casa.

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