O público que foi assistir à palestra “Inovadores por natureza”, na noite desta quarta-feira, na Plenária do Rio Innovation Week, foi brindado com um dos momentos mais emocionantes do evento: Ney Matogrosso fez uma pausa na conversa com Arnaldo Antunes, mediado pela jornalista Kenya Sade, para cantar “Balada do louco” à capela, com o público cantando baixinho e explodindo depois em palmas. Em seguida foi a vez de Arnaldo Antunes interpretar “Inclassificáveis”, também muito aplaudido.
No painel, os dois cantores trocaram experiências. Eles debateram sobre processos de criação, lançamentos de álbuns e formas de se manter atual em um mundo de constantes transformações – algo que não é novidade para os dois artistas, com a carreira marcada por inovações. Para Ney, que completou 84 anos, “o segredo é se renovar sempre. Estar em contato com as pessoas, vivendo o mundo atual”, disse Ney.
Tema da cinebiografia “Homem com H”, Ney contou que acompanhou alguns dias de filmagens. “A única questão que coloquei foi: ‘Não pode ter mentira nesse filme. Eu não tenho medo da verdade.’ Quando assisti ao filme, fiquei muito mexido.”
Arnaldo Antunes falou sobre o processo de criação, formação da música e influências que sofreu. E em como usar a palavra como plataforma. “Desde muito cedo, criei gosto pelos livros e pelas canções. Escutava muito o rádio. Fui criando uma formação eclética e comecei a escrever já com o desejo de subverter a linguagem”, contou. “Essas questões sempre transitaram juntas. Trazer o universo da poesia para a canção e vice-versa. Isso vem desde muito cedo. A palavra é a minha plataforma para outras linguagens”.
Sobre o novo álbum, Arnaldo disse que ele traz “canções mais solares e outras um tanto dolorosas”. “Vivemos em um mundo cheio de negatividade, hostil em vários aspectos, mas, de certa forma, a consciência disso é necessária até para a gente pensar como reagir”, explicou.
Ao falarem sobre misturas de gerações na música, Arnaldo Antunes contou que tem curiosidade de saber o que está surgindo de novo no cenário musical. Conhecer o que a garotada está fazendo. Ao lado, Ney Matogrosso diz que “presta atenção ao novo”. “E há muitas pessoas interessantes, apesar de certas repetições. No meu processo de escolha, primeiro tenho de gostar. Não sou restrito a um estilo musical.”
Ao serem perguntados sobre a realidade política brasileira, Arnaldo ressaltou que “nada é permanente, a realidade sempre muda”. “A saída é prezar a cultura, ciência, ética e gentileza. O que vemos hoje são as pessoas subvertendo os sentidos das palavras. Autoritários falando de democracia. Precisamos prezar pelo uso correto da linguagem. Essa é uma das missões que a poesia tem.”
Já Ney Matogrosso disse ser restrito em relação a essas questões. “Não mergulho nessas informações. Quando começam a cheirar mal, eu já saio. Vemos muitas mentiras nesses ambientes, informações que não correspondem à realidade. Inclusive sobre a minha vida.”
Depois de tema de filme, Ney vai ser enredo da escola de samba Imperatriz Leopoldinense. “Eu faço parte da música. Aceitei e estou satisfeito. Estou gostando dessa história”.
